Boas Vindas

Boas vindas a quem chega a esse blog. As coisas escritas aqui são frutos da mente poética, depressiva e inconstante de uma pessoa que é muito jovem para sentimentalizar tanto as coisas.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Confissão

Eu tenho uma confissão para fazer

Eu continuo tão triste, tão morto

Os dias parecem se estender eternamente

E eu queria viajar para longe daqui

Não tenho mais inspiração para criar

Ninguém é bonito de ver

Aparecem e somem em seguida

Nem tenho força para levantar

Sair dessa situação vegetativa

Eu tenho mil coisas para sonhar

Mas nada consigo fazer acontecer

A luz que explode é tão fria,

É fraca e não consigo ver nada

Eu só consigo estar sempre imóvel

Encostando-me num canto, na cama

Sem saber o que é aventura ou felicidade

Vou caminhando para trás, vou fugindo

Até cair no sono novamente

É aonde posso desaparecer do mundo

Mesmo que seja por pouco tempo

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Milton Nascimento


Este é o nome de um dos monstros sagrados da música brasileira. Talvez o mais monstruoso deles, sua voz tem um sentimento tão forte, suas músicas têm um intimismo único. É um dos mais talentosos artistas brasileiros de todos os tempos, talvez um dos mais talentosos de todo o mundo. Seu nome explodiu para a música com o disco “Clube de Esquina” de 1972, desde então é um dos mais admirados compositores, e uma das vozes mais conhecidas do país. Lançou dezenas de clássicos, como Maria, Maria; Coração de Estudante; Nos Bailes da Vida; Travessia; Cais; Canção da América; Para Lennon & McCartney; Caçador de Mim e etc. Para mim foi algo inacreditável ao ser descoberto, sua canção tem potencia e tem delicadeza ao mesmo tempo. A doçura é uma de suas maiores marcas, homenageando as pequenas coisas em cada letra ou melodia, a sonoridade é sempre agradável aos ouvidos e, ao mesmo tempo, tem algo a mais, tem a força de um poema. A perfeição de sua arte me faz adorá-lo e também sua sutileza ao falar, a beleza de sua alma, digamos assim. Abaixo coloco um vídeo de uma apresentação de Milton em Montreal, interpretando uma de suas obras-primas, Cais.

Por favor, me diga o que fazer

Eu insisto no que não vale à pena

Eu me vejo num lugar que não é meu

Eu me deito no chão e olho o céu

Nada faz sentido

Por favor, me diga o que fazer

Eu já não sei o que é sentir

Eu sussurro coisas que ninguém ouve

Eu caminho rápido no meio dos vagarosos

Eu me arrumo demais para um solitário

Nada se encontra

Por favor, me diga o que fazer

Eu já não sei o que é sentir


Me carregue para longe daqui, me leve nos braços

Me dispa das roupas sujas, prefiro sentir frio

Eu quero tanto voltar a ver o lirismo de tudo

Eu quero tanto reencontrar minha razão emocional

Eu quero tanto suportar um pouco mais

Nada é como quero

Por favor, me diga o que fazer

Eu já não sei o que é sentir

Me encontre naquele lugar antigo aonde eu ia

Me amamente, me receba de braços abertos

Eu quero tanto ter alguém que me acalente

Eu quero tanto poder acalentar alguém

Eu quero tanto cantar as canções que gostava

Nada tem beleza

Por favor, me diga o que fazer

Eu já não sei o que é sentir

sábado, 24 de julho de 2010

Candy, Candy, Candy, I can’t let you go


Quero fazer hoje uma pequena homenagem a um dos seres humanos mais adoráveis que já passou pelo planeta, Candy Darling. Candy nasceu James Lawrence Slattery e foi a primeira grande atriz travesti do cinema. Filha de um pai violento e alcoólatra, Candy não teve uma infância fácil. Quando a mãe ficou sabendo, por boatos da cidade, que seu filho vestia-se de mulher para ir a bares não teve duvida, perguntou ao próprio, que respondeu apenas saindo da sala e voltando em seguida completamente vestido em roupas femininas. Anos depois sua mãe disse: “Eu sabia que não podia parar Jimmy. Candy era linda e talentosa.”. Passado algum tempo, com a chegada dos agitados anos 60, Candy conheceu Andy Warhol, seu grande amigo e incentivador, foi em seus filmes que ela se tornou uma estrela e foi pelas canções da banda The Velvet Underground (apadrinhados de Warhol) que ela se tornou musa. Lou Reed, o vocalista e compositor, se apaixonara por ela, assim como tantos outros. Candy inspirou vários, foi amada por vários, fez amizade com muitos, tudo por ser a mais doce das pessoas, a mais sensível e a mais inacreditável, completamente uma das maiores personalidades do mundo moderno. Morreu aos 29 anos de leucemia, deixando uma carta a Warhol e seus seguidores, esta dizia: “Infelizmente nem antes de minha morte eu tive vontade de viver. Estou cansada de tudo. Pode-se dizer que estou cansada até a morte. Vocês sabiam que eu não podia durar. Eu sempre soube. Eu queria poder conhecer todos vocês de novo.” Muitos foram ao seu funeral, de Julie Newmar à Gloria Swanson. Iggy Pop cantou sua despedida na canção “Candy” (citada no título), mas foi pelas palavras de Reed que ela mais foi traduzida.

“Candy diz: ‘Eu odeio lugares silenciosos, pois diminuem o sabor de como tudo deve ser’” (“Candy Says”.)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

No mar

Sutileza nos seus passos, vagarosamente

Fico olhando de longe, sentado, bem longe

A água da praia indo e vindo, sorrindo

Batendo nos seus tornozelos, areia misturando

Eu vou ficar parado, olhando suas delicadezas

Sua pele mais que branca, inacreditável, refletindo luz

Um pedaço de gente sufocado de lirismo

Indo de um lado para o outro com pés dançantes

Brincando com a água, com a areia, rindo para mim

Me dando um tchauzinho, e o sol batendo

Eu fico encantado, e aceno de volta

Você é sutil e repleto de lindas expressões

Mando um beijo, mando um pouco de mim

Lá de longe você me percebe e me agarra, brilhando

Você sorri com realidade entre os lábios

Você me abraça com a cabeça em meu peito

E eu te abraço, sentindo o mar tocando minha pele

A paisagem é algo aparte de nós, está mais longe

Está por aqui para ser pintura em nosso fundo

Eu sinto como se fosse eternidade, sinto você

terça-feira, 20 de julho de 2010

ABBA

Um dos grupos mais ignorados e rebaixados da música é o ABBA, banda sueca dos anos 70. Apesar do grande sucesso que tiveram, o ABBA foi sempre considerado pouco importante pela crítica e pelo publico roqueiro. Porém a banda começou sempre influenciada pelo rock, principalmente no glam dos ingleses David Bowie e Bryan Ferry. Apesar de tudo, o ABBA criou um cancioneiro de sucessos que qualquer pessoa ao redor do mundo conhece. Sempre focados nas músicas de grande romantismo e também nas dançantes, cheias de influencia da também crescente música disco dos anos 70. O nome em sigla se deve aos nomes dos quatro integrantes do grupo, os músicos Benny e Björn e as vocalistas Agnetha e Anni-Frid (mais conhecida como Frida). Nos anos 80 o grupo se distanciou e desapareceu dos holofotes, porém suas canções nunca foram esquecidas pelo grande público. Dancin’ Queen, Mamma Mia, Waterloo e tantas outras continuam sempre tocando nas rádios e nas pistas de dança. Reapareceram, para agradável surpresa dos fãs, no musical da Broadway “Mamma Mia!” que recentemente tornou-se filme, contando com Meryl Streep no papel principal. E agora, em 2010, foram finalmente reconhecidos pela crítica roqueira, entrando para o Hall da fama do rock.

Ouçam a bela canção “The Winner Takes It All” abaixo.

Só sei que sei demais

O conhecimento é um silêncio numa multidão alegre

Os poucos desencaixados parecem tristes e cheios de sabedoria

A benção da ignorância sobressai, e me causa tanta inveja

Como eu queria sair na rua e falar de esportes, de diversão

Mas só consigo ver na minha frente os detalhes bonitos na paisagem

As palavras bonitas saídas de músicas que tocam em rádios

E essas rádios são as que quase não são ouvidas

Eu desejo ver o mundo com simplicidade, quero ser surdo,

Quero ser cego e só não ser mudo para aprender a conversar

Pois quero falar com todos, todos que tem rostos iluminados

Meu rosto só consegue se iluminar quando vejo perfeição

E esta está apenas nos belos quadros do começo do século

E está também nas poesias dos sofredores suicidas

Aqueles poetas que de tanto sentimento quiseram dessentimentalizar

Terminando por acabar com tudo e dormir bem na escuridão

Meu bem, como eu queria mergulhar nessa piscina

Para me molhar na mesma água que todos os alegres

Eu nunca aprendi a nadar completamente, eu não entendo,

Não sei o que me faz tão desencaixado, só sei que sei demais

segunda-feira, 19 de julho de 2010

George Harrison


Em homenagem a semana do rock, escreverei sobre meu beatle favorito. George Harrison, o mais complexo dos 4, o compositor, o grande artista. Para mim nem John, nem Paul, nem Ringo tinham o potencial de George, apesar da grandiosidade de todos. As músicas "Here Comes The Sun", "Something", "While My Guitar Gently Weeps", são muito mais complexas e belas do que tantas de Lennon/McCartney. Sem desrespeitar a beleza e o talento dos outros beatles, que tanto amo.
Não tenho muito o que falar de um artista de tamanha genialidade como Harrison. Coloco aqui, então, o próprio.


Lembrança de uma paisagem colorida

Eu caminhei de dia e de noite por toda essa paisagem colorida

Mas poucas cores eu pude ver, eu mal via meus pés andando

No chão só estava a grama morta, e eu ia pisando, pisando e amassando

No futuro eu queria um luar mais forte, para poder enxergar de noite

Mas não enxergo futuro nenhum para mim, apenas vejo todo o passado

O passado é mais concreto, mais exato, eu o vejo feito uma fotografia

Ali também não tem nada de mais a ser observado, mas eu vejo tudo

Meu bem, meu anjo, meu caminho está para se acabar

O céu está tão azulado e eu detesto a cor azul, todo mundo ama

Eu quero ver sua face naquele lugar bonito em que você passeava

Porém estou tão longe, tão longe, tão longe que não há como voltar

Sua voz ainda ouço, mas só ouço porque te memorizei completamente

Não te vejo há tanto tempo e há tanto tempo não me vejo também

A paisagem colorida está vazia e triste, eu estou tão cansado

No futuro eu quero felicidade e música tocando o tempo todo

Mas não vejo futuro, não vejo alegria nesse espaço que percorro

A inocência não me deixa, não me volta, não a tenho, mas a abraço

Meu bebê, minha flor pequenininha e perfumada que eu amava

Tudo que eu queria era cheirar os seus cabelos como fazia antes,

Como fazia antes apenas no meu imaginar, na verdade nunca te toquei

Eu corri para longe, antes que pudesse te afetar de algum modo

Eu sempre entristeço todos que ousam me dar algum sentimento

E tudo isso porque não sei direito como viver, nem sei direito sorrir

Isso não explica todas as lembranças ensolaradas que me vem às vezes

Em que você está com a cabeça encostada em meu peito

Sorrindo e falando, contando casos de sua pequena vida, delirando

Tudo isso eu devo ter inventado nos tristes momentos em que caminhava

Para longe e para tão mais longe do que antes, eu não sei mais

Talvez você tenha existido, talvez seja apenas uma invenção minha

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Belos dias e noites

Um belo dia eu te vi do outro lado da rua

Caminhando soturnamente, andar de menino

Suas pernas me enlouquecendo

Suas delicadezas se escondendo atrás de sussurros

De pele com pele até lábio com lábio

Saliva que desce pela garganta

E outro belo dia com brilho nos olhos

Passeando pela zona, rindo com as prostitutas

Nos encostando num canto

Um abraço forte, caricias no pescoço

Beijos pelo rosto, por toda sua imensidão

Dedos vagando pelos cabelos

Perna enroscando na perna, na alma

No corpo e no suor que desce

Menino feito menina feito menino

Uma bela noite de estrelas piscando

A gente na rua, a gente com gente nova

Depois em casa, no chão, no tapete

Roupa enroscando roupa

Tudo se arrastando no chão, caindo

Caindo pelas estribeiras, pelos penhascos pessoais

Rasgando revistas com fotografias bobas

E salvando as palavras para outros momentos

Quando poderemos usá-las um no outro

E usar corpo no corpo, esfregando tudo

Sentindo belo, bafo e cheiro

Imaginando os dias e noites que virão

Uma andróide afro-futurista invade o mundo da música



Finalmente surge alguém de valor inestimável no cenário musical atual. Já estava desistindo da sociedade, crendo que Amy Winehouse havia sido a última grande artista da música, mas agora, do nada, aparece uma cantora cheia de soul e psicodelía. 'Janelle Monáe' fez algo nunca antes feito, misturou todos os estilos musicais numa panela e despejou numa história de ficção científica. A cantora americana, de 24 anos, nos deu de presente um disco conceitual (contínuo, contando uma história) com tudo isso. O EP "Metropolis" e o álbum "The ArchAndroid" nos contam a história irresistível da andróide Cindy Mayweather, que se vê apaixonada pelo humano Anthony Greendown. Ambos, então, começam uma romance proibido, se tornando personagens do submundo dos anos 3000. Janelle Monáe criou essa obra genialmente. Não existe possibilidade deste disco ser ouvido de outra forma que não seja do começo ao fim, e sem parar. Peço que ouçam imediatamente. É uma obra-prima.


Eu comigo mesmo

Corrimão das vaidades sou eu

Recorrendo às manias e aos trejeitos

Para escapar de um lugar comum tão indesejado

Por fim, acabo caindo na melancolia

Nada tão melodramático!

O puro sentimentalismo barato!

Devoro a minha imortalidade

Assim, escondido na solidão,

Eu pareço um tanto mais imortal

Explodo os fogos de artifício da minha mente

Para que nasça alguma inteligência

Algum sentimento realista

Um lirismo bonitinho para um poema!

Mato os eus, destituo a individualidade

Todos deveriam ser tudo

Numa coisa só, num grupo único

Pessoas que pulam no mar azul;

Mas gostam mesmo é da dor da prosa,

Da poesia, literatura completa

Ler livros aonde todos sofrem, morrem, implodem;

Mas por fim acabam gargalhando

Eu sou uma caixa de maquiagens

Maquilando lágrimas para que fiquem exatas

E como na matemática caibam num poema

Meu Deus, nada tão horrível quanto à fé

Pena que a tenho exalando do meu corpo

Crendo em todas as religiões

Chorando por aí por medo de morrer

E querendo morrer a cada minuto!

Eu brilho pelos caminhos que tomo

Uma lamparina suja, que faz luz de sua escuridão

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Baryshinikov e seu ballet

Umas das artes de que menos entendo é a dança, porém sou um grande admirador. Para poder falar pelo menos um pouco dessa maravilhosa forma de expressão artística só o que posso fazer é mostrar um grande dançarino em cena. Escolhi o maior bailarino de todos os tempos, Mikhail Baryshnikov, a cena é do filme "O Sol da Meia Noite", que ele estrela atuando, a carreira que ele seguiu ladeando a dança. Quando vi essa cena não contive as lágrimas, Mikhail expressa tudo, todo sentimento, e tudo sem usar uma palavra. Simplesmente genial.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Meninos vão passando

Meninos vão passando

O sol de meio dia bem lá no alto

E eu sentado na janela um tanto perdido

O céu está azul, mas eu o vejo cinza

Porque gosto mais do céu nublado

Uma menina de cabelos loiros vem devagar

E pára do outro lado da rua

Ela é diferente, é feito água

Pareceu escorrer até ali

E agora já vai sumindo pela rua

Eu não enxergo mais, ela já foi

Os carros também vão passando

Não há nenhuma nuvem lá no alto

Mas passa um avião

Eu queria estar em qualquer outro lugar

Mas estou no sofá, sentado

Observando quem passa na rua

E é meio dia, está quente e dolorido

Eu estou tão dolorido

Aqui dentro não existe nada

Meninos vão passando

sábado, 10 de julho de 2010

20 anos sem Cazuza


Faz exatamente 20 anos que estamos sem Cazuza. Essa postagem não terá fatos de sua vida como faço com todos os outros que homenageio neste blog, e isso se deve, completamente, a importância que Cazuza tem na minha vida. Cazuza me inspirou a escrever muito mais que Rimbaud, Garcia Lorca, Ginsberg ou Sylvia Plath. Arrisco dizer que Cazuza me musicou muito mais que Chico Buarque, Milton Nascimento ou Caetano Veloso - sem tirar a importância gigantesca que estes também tiveram na minha vida -. Cazuza, desde o primeiro momento que entrou em minha vida, fez com que tudo dentro de mim mudasse de lugar, fez com que tudo de importante ganhasse mais importância. Sua poesia tinha, em mim, o efeito de milhões de litros de álcool, de drogas, de adrenalina, de sensibilidade e amor. Cazuza me construiu. As coisas boas que existem em mim (não a depressão e etc.) são porque um dia ouvi uma canção de Cazuza. Usando um pouco do exagero de Cazuza posso dizer que minha alma gêmea morreu dois anos antes de eu nascer.

"Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida, e algum veneno antimonotonia"

Conflito matrimonial

Solidão na solidão é a podridão cada vez maior

Você mente porque a mente assente tudo que vem

Os sorrisos antes risos agora soam como guizos calados

E minha sensação é que a emoção não tem mais razão

Tudo que você faz se desfaz e a paz nunca acontece

Amor antes calor agora só faz dor na relação

O frio tão esguio é bem mais frio agora

Nós dois a sós, pois a voz não veio antes nem depois, mas sempre

Ela era calada no começo e amada no tropeço

Mais solidão e agora sem paixão, cheia de uma ilusão dolorida

Eu choro, pois te adoro e devoro sua vida aos poucos

Você me ama e mesmo na lama ainda vê a chama por ali

Sentimento que não lamento, pois só agüento a vida assim

O resto está reverso, não presto em nenhum momento

Nos destruo, nos usufruo e desconstruo toda a razão

Todos os beijos, abraços nos azulejos e belos cortejos

Isso não existe mais, não persiste mais, a gente não coexiste mais

Eu desejo tudo o que não vejo e beijo imagens do passado

Você derrama sobre a cama as dores e me chama para voltar

Tudo regressa, a cena recomeça nessa drástica peça que somos

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Mestre do cinema


Pedro Almodóvar não precisa de muitas palavras, para mim é um dos maiores cineastas da história do cinema e talvez um dos maiores vivos. Carrego comigo toda a sensibilidade ímpar que este espanhol nos mostra em seus filmes. Suas cores, seus sons, suas vidas, suas mulheres e seus homens sensíveis. Estão todos comigo. Ele é grande parte de mim, minha maior influência, meu ídolo e mestre. Coloco abaixo um pequeno trailer, feito por fãs, do belíssimo filme "Tudo Sobre Minha Mãe", obra-prima de Almodóvar.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O rito meu

Rito no que irrito o seu sorriso

Eu costumo fazer isso muito mesmo

Desculpa, não é sua culpa, não é nada

Apenas repito esse rito sem pensar

Eu queria tanto continuar sem dor nenhuma

Idealizo o piso no qual me jogo

Eu repito de novo o rito em que te irrito

E choro meu choro sozinho, aqui

Desculpa, é tudo minha culpa, tudo

Não sei o que faço, nem o que refaço

Eu apenas penso no lenço em que choro

E ao fazer isso eu vejo o que há de errado

Eu deixei há muito tempo o tempo

Em que pensava no que te fazia bem

Por isso, sofrendo, vou lendo a solidão

E vejo que não te terei por muito tempo

Sylvia


Uma senhora poetisa que me faz ficar perdido nos meus próprios pensamentos, toda vez que lia um de seus poemas era como viajar em mim mesmo. Sylvia Plath foi um dos maiores nomes da literatura americana, seus poemas deram força para a literatura feminina e para todos os que, como ela, sentiam um grande desespero para com a própria existência. A escritora teve um grande histórico de depressão durante toda sua curta vida, e algumas tentativas de suicídio até que em 1963 conseguiu fazê-lo aos 31 anos, deixando dois filhos. Ao ler Sylvia eu sinto como se lesse minhas próprias palavras - sem querer me comparar a sua genialidade - , suas dores também parecem minhas. Sua solidão em meio a mil pessoas é exatamente como a minha. Meu primeiro contato com ela foi lendo um grande livro sobre literatura, vi ali algumas palavras sobre seu trabalho e bem ao lado a fotografia que coloquei acima, sua imagem foi o que me levou a lê-la, muito mais do que o crítico dizia sobre ela. Cada vez que observo uma fotografia dela consigo sentir todo o sentimento que transborda de seu olhar vago, de seu sorriso suave e sem força, e de alguma forma estranha e inexplicável ela me dá forças para continuar, apesar dela mesma não ter conseguido isso.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Um Dois Três

Um

Começo meu dia cansado, estendido numa cama

Não dormi direito, nada fiz direito

Dois

Minha tarde se estende como uma eternidade

Ninguém por perto, ninguém por aqui

Três

Durante a noite me sinto um tantinho mais vivo

Mas explodo de vez em quando, não controlo


Perco o caminho para a calmaria

Esqueço os passos para o auto-controle

Não leio os livros que dizem me explicar

Sussurro coisas para pessoas alheias

Tento um pouco de sentimentalismo barato

Escrevo alguns poemas de amor

Escrevo outros tantos poemas de dor

Tento contar todas as pessoas que conheço

Sigo caminhando aqui dentro de casa

Tenho medo de sair para a rua

Quando saio quase corro sem entender

Não suporto as pessoas que aparecem

Fico esperando um momento feliz

Meus parentes nunca chegam de onde estão

Minhas músicas não são tão divertidas

Eu só sorrio quando vejo Penélope

Conto:

--------Um

----------------Dois

------------------------Três

E o dia já terminou!

Egon Schiele, chocante e sentimental



Vou falar hoje de um pintor perturbador, alguém que choca e sensibiliza ao ser observado de repente, sem saber do que se trata. Egon Schiele, um dos nomes mais importantes e impressionantes do expressionismo. Austríaco, inconstante e fascinado pela forma humana e pela sexualidade das pessoas. Chocou completamente o público em 1908 quando fez sua primeira exposição, protegido de Gustav Klimt, que parecia ser o único interessado em seu trabalho. Tornou-se então um ídolo da juventude delinqüente, seu estúdio vivia cheio de menores de idade, que Schiele usava como modelos para suas pinturas. Isso lhe proporcionou 21 dias na prisão, por expor seu trabalho, de forte conteúdo erótico, a menores, e também por uma possível sedução de uma menina. Egon Schiele, por essas tantas coisas, tornou-se um ícone da arte mundial, sendo, nos dias de hoje, muito estudado e admirado. Schiele provoca em mim uma sensação dolorida, os corpos deformados de seus quadros parecem deformarem-se em mim, Schiele parece contar suas dores e seus medos, seus desejos e sua visão da vida. Tornou-se um dos meus artistas mais adorados.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aqui é melhor

Aqui é melhor

Onde estamos é diferente

Somos dois pedacinhos inúteis

Dessa coisa toda, funcional

Aqui é melhor

Meus tempos nunca acabam aqui

Meus amores são mais bonitos por aqui

Os meninos me olham com mais carinho

E eu tenho mais liberdade para sorrir por aí

Corrida para fora

Para outro lugar, para longe

Sorrisos nas ruas, nos sonhos, para as luas

Olhando o céu, as estrelas

As meninas que dançam no baile

Aqui é melhor

Garrel, o sonhador


Vou falar agora de um ator que me fascina filme após filme. Louis Garrel, um francês de 27 anos que parece ter o ar de adolescente eterno, com cabelos revoltos, um andar ensaiado, sorrisos irônicos e palavras sagazes. É desse jeito que ele compõe seus personagens. Apareceu para grande público no filme Os Sonhadores, do famoso cineasta Bernardo Bertolucci, onde fazia o personagem Theo, que mantinha um relacionamento a três com a própria irmã e um jovem americano (Eva Green e Michael Pitt). Depois disso seguiram-se papeis, na maioria em filmes do diretor Christophe Honoré - como As Canções de Amor, Em Paris e A Bela Junie -, ou então nos filmes do pai, Philippe Garrel - como Amantes Constantes e Fronteira da Alvorada -, nestes a atuação de Louis parece crescer enormemente. Abaixo coloco um vídeo do musical As Canções de Amor, aonde Louis Garrel contracena com Grégoire Leprince-Ringuet, ambos cantando.

Meu epitáfio

Eu deixo meu testamento em aberto

Eu me deixo para que cada um faça o que quiser

Eu não sei o que anda acontecendo comigo

Mas está acontecendo muita coisa ao mesmo tempo

E ninguém está aqui por perto para me explicar

Não há deus ou santo sussurrando no meu ouvido

Apenas meu silêncio eterno, que vai me torturando

Eu deixo minhas cinzas com quem quiser

Eu me deixo jogado num canto, me deixo no ar

Eu não sei o que anda acontecendo comigo

Mas está acontecendo muita coisa ao mesmo tempo

E não estou seguro o suficiente para entender

Não há sorriso calmante para eu observar

Apenas uma parede cheia de fotografias tristes

Eu deixo minha vida nas mãos dos meus

Eu me deixo para quem conseguiu sentir algo por mim

Eu não sei o que anda acontecendo comigo

Mas está acontecendo muita coisa ao mesmo tempo

E não tenho céu para observar pela janela

Não há eternidade nas minhas palavras atuais

Apenas uma depressão crescente que vai me diminuindo