E foi num campo que, loucamente, corri atrás de um sapo
Que me fez perder-me no meio do mato, sem saber o que fazer,
Mas lotado de idéias para uma coisa nova,
Mais ainda minha cabeça enlouqueceu, quando vi uma bela imagem
De um ser humano de cabelos loiros, brilhando sob o sol
Que naquele dia fazia tudo parecer dourado.
E seu rosto ficou gravado na minha memória,
Me lembrava uma certa pintura, hoje nem sei qual é,
Mas nos belos dias em que te via ali
Eu tinha a certeza de que era a visão mais bonita
E que ninguém nunca te alcançaria no amor que causava em mim.
Hoje nem sei mais quantos passaram nos meus sonhos,
Porém nessa noite qualquer em que estou me lembrei de você,
Com sua eterna sutileza, um jeito diverso, misturado,
Bem melhor que o meu, bem melhor que todos,
E eu ali, sem saber o que fazer com o sentimento que surgia em mim.
Mas foi no dia que te rocei a pele e toquei seus lábios,
No dia em que te contemplei de perto, de tão perto,
Foi que tive a certeza da exatidão dos seus traços belos
E do límpido olhar que saía de seus olhos de cor escura.
Eu me perdi entre seus dedos, seus cabelos, seus maneirismos e beijos,
Me desencontrei bem mais do que quando estou sozinho
E me acabei nos sussurros que saíam de sua boca e da minha,
Agora, depois de tanto tempo, nem sei mais o que disse de tão bonito
E nem sei que palavras suas ecoavam nos meus pensamentos fracos,
Eu só ainda sei que o que me prendia a ti era seu rosto lindo e sua voz pequena,
Que mal saía, que gemia em dias frios, eu só lembro disso.
E tudo foi se esvaindo aos poucos de dentro da minha mente,
Você foi ficando para trás e outras coisas ficaram mais importantes,
Mas do nada no dia de hoje seu rosto me apareceu
E eu não pude acreditar no que ainda existia aqui,
Ainda havia uma porção de imagens, cenas e pessoas antigas,
Muitos que não vejo há décadas, você eu não vejo faz tanto tempo
Que eu já nem sei ler o número que aparece nas minhas contas.
Eu lembro que você nunca terminava as frases que começava
E esperava que eu entendesse tudo como um livro fácil,
Porém eu não entendia, eu só sabia o que eu via e nada via além de ti.
Mas foi no dia que te sentei em meu colo e lhe abracei,
Que eu pude ver o que era você na verdade, uma criança só,
Uma perdição, um roubo da sentimentalização de tudo que havia aqui,
Você era mais do que perfeito, era jovem e brilhava nas luzes da rua,
Eu nem te adorava tanto assim, meu amor era calmo e profundo
E eu deixei que sobrevivesse por aqui todo esse tempo,
Para que um dia recordasse e a achasse uma bela memória.
É o que acontece agora.
Dentro da minha angelical pergunta sobre a humanidade
Fica apenas aquela centelha de mim mesmo,
Eu sei sobre tudo, eu nunca tenho duvidas
E sei que deus é uma visão minha sobre a essência boa do planeta.
Meu bem, talvez isso que me faça tão diferente,
Pois eu sinto a diferença irritante que me separa do resto
Das pessoas comuns e felizes, que sempre continuam depois de cair,
Eu sei que debaixo do pano da minha calmaria mental
Ainda existe aquela coisa que treme sem saber,
O que me faz sentir vergonha quando estou sozinho com desconhecidos.
Por isso me visto como um pavão indeciso
E também por isso que escrevo essas coisas todas,
Já sei o que me faz assim, não tenho problemas com isso,
Os problemas, essas dores, estão nos outros tantos que me observam
Sem sequer saber que estão diante do brilhante desconhecido,
De uma cabeça que pensa de forma metálica e política,
Sensível e plurissexual, com brilhantina na cabeça e um jeito comunista,
Sempre se apaixonando por gente com rostos jovens e belos de se ver
E deixando para trás, com velocidade, objetos obsoletos de mim mesmo,
Certos preconceitos que eu jurei nunca ter e que se derramaram de mim,
Sem me perguntar se eram bem vindos na minha vida.
Meu bem, meu bem, meu anjo, eu fico aqui na minha própria mistura,
Sem saber se faz sentido ou não, eu não quero saber,
Mas vou esperar que você me ouça e me entenda e me siga por aí,
Irei esperar com todo esse meu porte de emoções demasiadas
E com um belo gesto de carinho, bobagens, baboseiras caretas, melosas.
Enquanto isso fico aqui sozinho com deus e meus livros,
E com as lendas que eu ainda insisto em cultivar,
Os semi-deuses daqui da terra, poetas individualistas, auto-destrutivos,
Aqueles que, eu sempre acho, têm a certeza de serem eternos,
Os donos das minhas perguntas angelicais que ainda aparecem
Mesmo depois de eu ter me achado na certeza de ser superior a todos,
Aquelas perguntinhas insistentes que me tiram do pedestal,
O lugar aonde só meu bem pode me ver com perfeição,
Minha inspiração, minha correta satisfação em estar aqui vivo,
Eu só persisto, pois sei que você gosta assim
No primeiro dia me pareceu só uma visão bonita,
Olhos tão claros, um pensamento estonteante para de vez em quando,
Mas foi virando beleza fixa, fico sorridente ao lembrar
E me agarro em qualquer um para compensar, tudo normal,
Esvaziando a cabeça daquelas idéias políticas que me complicavam,
Para agora ficar mais leve e burro, idealizando, agora, um rostinho lindo,
Que faz pensar que eu e mais todos somos mendigos na vida
E que alguns têm belas faces para deixar nosso dia-a-dia melhor,
Porém meus pensamentos e ensaios pessoais sobre a humanidade são exagerados
E repletos de poesia barata que no fundo eu gosto mais,
Pois é muito mais visceral do que certos épicos gregos corretíssimos
Que falam da depravação dos deuses como se fossem elegantes,
Não que isso inclua Safo, minha pornógrafa favorita,
E mesmo que tudo seja desse jeito horrendo eu quero continuar assim,
Pelo menos por um tempo gostaria de pensar em lábios,
Em pele, em corpo, em movimentos que fazem ao andar,
Esses rapazes e essas moças que com suas naturalidades me auxiliam,
Me deixando um pouco mais suave para conversar.
Nos dias mais próximos de hoje me pareceu a mais inacreditável visão,
Como se os olhos claros tivessem tornado-se piscininhas,
Mesmo sendo bobagem, a cor das piscinas com muito cloro é bonita de olhar
E os olhos do meu pequeno deus são dessa cor
