Boas Vindas

Boas vindas a quem chega a esse blog. As coisas escritas aqui são frutos da mente poética, depressiva e inconstante de uma pessoa que é muito jovem para sentimentalizar tanto as coisas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fernanda Montenegro, nossa maior atriz


Fernanda Montenegro, um nome que quase todos os brasileiros conhecem. A maior atriz que esse país já conheceu completou 80 anos nesse ano de 2010. Estrela de grandes novelas, como a memorável "Guerra dos Sexos", e de grandes obras cinematográficas, por exemplo "Central do Brasil", filme pelo qual Fernanda foi indicada ao Oscar de melhor atriz, feito nunca repetido por atrizes brasileiras. A potência de sua atuação nunca falha, da protagonista até a vilã, chegando na participação especial, seja em qualquer papel, Fernanda sempre se mostra forte e presente. Vai da curiosa, irônica e solitária Regina, de "O Outro Lado da Rua", até a doce e iluminada Nossa Senhora de "O Auto da Compadecida". Outros personagens marcantes de sua carreira que podemos citar: "Eles Não Usam Black-Tie" (personagem que Fernanda confessou ser sua favorita), "A Hora da Estrela", "O Que É Isso, Companheiro?", "Olga" e "Casa de Areia" (filme que o cineasta Pedro Almodóvar disse admirar muito).
Nesse exato momento em que escrevo, assisto Fernanda Montenegro na novela das nove, e a cada cena em que ela pronuncia uma palavra que seja, não consigo fazer mais nada a não ser assisti-la, notando como cada frase parece mais sutil em sua voz, e ao mesmo tempo, tão forte que supera qualquer outro ator em cena.

Vida desejada

Eu quero a certeza de não ter caminhos a seguir

E a certeza das amarras bem presas nos meus braços,

As meninas sempre dançando ao redor das casas

Os meninos eternamente adoráveis de observar

Preciso de pessoas que me conhecem sem me ver,

Pessoas que me toquem nos lábios para sentir minhas palavras

Suavidade nos dedos, passando as mãos nos cabelos

E cantarolando poesia marginal para divertir o mundo

Eu quero a perfeição das faces agradáveis de olhar

E a beleza de uma solidão conjunta, a dois, a cem

A bailarina rodopiando pelos corredores da mansão

O garoto amável sempre me acompanhando com o olhar

Minhas roupas sujas todo o tempo, xícaras quebradas

Um liquidificador de emoções, sensibilidade e chuva

Pessoas de enfeite nas paredes, sorrindo pelas ruas cheias

Flores com perfume humano, abraço e paredes coloridas

Música transcendental multiplicando-se nos ouvidos

Para que a festa continue calmamente noite adentro

Barbara... uma grande voz da França

Não tenho muito o que falar sobre ela, apenas ouça-a e entenderão sua enormidade...

Balada insensível do emotivo

Ei, meu bem, olhe bem nos meus olhos

Assim eu vou poder ver se sinto aquela sensação

Em que tudo parece encaixar, em que tudo funciona

E você sabe que aquela pessoa é a pessoa,

Ei, meu bem, eu nunca senti isso

Só senti aquela admiração perfeita e adorável

Em que você sonha com intimidade, em que você deseja

E tudo parece belo de longe, sem você,

Ei, meu bem, respire bem para pensar bem

Assim eu conseguirei adentrar melhor suas idéias

E me fazer entender, me fazer fazer sentido completamente

Sei que não é nenhum pouco fácil sentir sem sentir,

Ei, meu bem, creio que sou insensível

Eu adoro, desejo, venero, admiro e almejo todos,

Porém não consigo me colocar ali no meio do fato, não funciona

Ali eu estrago a idéia da beleza delicada,

Ei, meu bem, preciso fazer algo safado

Assim tudo que quero demorará a aparecer

As ideologias que crescem por dentro de mim sumirão

E poderei apenas amar você sem esforço,

Ei, meu bem, assim que acabar vou sumir,

Pois te acho perfeito demais para intervir na existência

Quando estou longe, do outro lado da rua, consigo sentir

Tudo fica bem e eu começo a te venerar de novo,

Ei, meu bem, fiquemos afastados, quero te sentir mais

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Minha semana

Minha semana não foi agitada

Não foi sequer uma semana

Foram segundos voadores

E eu mal senti os instantes

Tudo foi para longe, tudo derreteu

Eu permaneço parado feito um vegetal

Desejando festejar, dançante, pela noite,

Mas sem ter forças para nada fazer

Não pude procurar abraços

E não quis ver rostos de conhecidos,

Pois queria uma aventura sem nome

E bem longe dessa casa em que estou,

Porém aqui estou eu,

Aqui estou eu na cama, escrevendo

Mesmo sem ter o que falar

Mesmo só reclamando de tudo

Eu continuo sempre e sempre

Continuo a não ter nada

Nada para contar, nenhuma vida,

Nenhuma novidade para espalhar

Minha semana não foi agitada

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Evelyn Evelyn, siamesas musicais...


Amanda Palmer e Jason Webley cansaram de ser dois dos mais originais dentro do cenário musical independente, resolveram virar uma coisa só, ou mais ou menos isso. Palmer virou Evelyn e Webley virou Evelyn, ambos tornaram-se "Evelyn Evelyn", duas irmãs siamesas que cantam e tocam diversos instrumentos musicais. Sempre achei incrível quando artistas criam personagens e assumem personalidades diversas para dar cara nova a sua arte, "Evelyn Evelyn" foi uma descoberta única e bizarra nesse estilo.
As irmãs parecem estar sempre envergonhadas e assustadas com o público, olham em direções opostas e tocam, cada uma com uma mão, músicas que ironizam a situação em que estão envolvidas, sempre cheias de bom humor. Duas das melhores faixas do disco homônimo são "Have You Seen My Sister Evelyn?" e "You Only Want Me 'Cause You Want My Sister", porém a surpresa maior é o cover da canção "Love Will Tear Us Apart", do Joy Division, interpretada com muita sensibilidade e melancolia. Coloco-a abaixo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Coisinha

Concluí minha obra nessa coisinha

Poema dos fracos, tristonhos, doentís

Subtraído de minha mente vazia,

Ou talvez cheia demais para entender

A estúpida complexidade dessa vida,

Dessa sociedade tão suja e morta

Eu encontrei tradução grandiosa aqui

Nessa folha, nessa incoerente coisa

Coisinha feita de palavras de pó,

De comprimidos amassados e diluídos

Eu me achei completamente no poema

E é tão fácil ser difícil aqui,

Pois é aonde estou longe e perto

Das pessoas que me causam mal

Descobri minha obra nisso tudo,

Nessa poética fraqueza escondida

Aonde sou o único deus, o ser vivo,

O único pedacinho de pão esfarelado

Derramo algum sentimento de dor

Para conseguir ser vivo na vida,

Pois a sociedade religiosa é má

E sei que qualquer divindade a abominaria

São mais corretos os prostituídos,

Doloridos e poéticos como eu sou

Aqui nesse buraco de pensamentos

Nessa coisinha de confissão pessoal,

Poema como se chama aqui na terra

O mundo que acho imundo de estar

Vou me deitar, pois já acabei por aqui

The Specials


Uma mistura de estilos. Com punk e reggae, muitos instrumentos e muito carisma, o grupo The Specials destacou-se no fim dos anos 70. Contemporâneos tanto do The Clash, como de Bob Marley, essa banda de múltiplos ritmos, animou as paradas inglesas com seu jeito animado e também bizarro, cheios de diferenças e tão perfeitamente encaixados. Os membros, cada um de uma forma, cada um com sua dança, cada um na sua velocidade, impressionam por fazerem dessa mistura maluca algo inesperadamente agradável de se ouvir. A originalidade é indiscutível e sua influência chega até hoje, aparecendo em artistas dos mais diversos tipos, como Amy Winehouse, fã declarada da banda. Abaixo a música "A Message to You, Rudy", um dos maiores hits do The Specials.

Como me sinto

Me sinto um passarinho depenado,

Gelado num freezer imundo

Eu estou congelado e não me movo

Começo a rir porque não acho graça nenhuma

E quero me esquentar

Me sinto uma menina menstruada,

Com cólicas terríveis e insuportáveis

Eu estou tão destruído, tão fraco

Fico, então, provando que tenho força demais

E ergo uma casa com a mão

Me sinto um escravo castigado,

Com marcas de chicote na carne

Eu estou em carne viva e nada mais

Surjo no meio da noite para me assombrar

E não levo nem susto

Me sinto uma fruta descascada,

Sem pele, sendo comido

Eu estou aqui e sinto as dentadas

Começo a me despedir dos pedaços que vão

E esqueço de tudo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

M.I.A.


Às vezes alguns artistas nos deixam chocados, deixando-nos sem entender o porquê deles serem tão impressionantes. Uma das últimas cantoras que me deixou completamente surpreso foi M.I.A., uma artista do Reino Unido, de origem cingalêsa. Ela mistura elementos de todo tipo de música, de rap e hip hop ao reggae chegando até ao funk carioca. Sua originalidade é inegável, assim como sua personalidade forte e desbocada, falando sempre o que lhe vem a cabeça, sem temer ofensas ou erros de conduta. Sua canção "Paper Planes" foi escolhida uma das 10 mais influentes da década e entrou na trilha sonora do aclamado filme "Quem Quer Ser Um Milionário?".

Melancolia

A concorrência no mundo da solidão não é grande

Temos apenas alguns companheiros de melancolia

Que choram com a gente nos nossos quartos escuros

Não temos quase ninguém que nos faça rir

Aqui no escuro é difícil de achar beleza

Tudo nos parece feio e desagradável de olhar,

Mas não temos vontade de levantar e ir embora

É um sentimento um tanto sadomasoquista

Nós nos obrigamos a gostar dessa situação imóvel,

Desse vegetal que nos tornamos nessa estufa triste

As outras flores estão tão estragadas quanto nós

Então ficamos todas esperando que viremos adubo

Emily Brontë


Uma palavrinha sobre uma grande autora de apenas um livro. Emily Brontë entrou para a literatura mundial tendo escrito somente "O Morro dos Ventos Uivantes", um marco poético sobre um relacionamento dolorido entre duas pessoas repletas de amarguras e pecados. A história de Cathy e Heathcliff tornou-se a minha a minha favorita, pois Brontë, usufruindo de sua própria vida triste e difícil como inspiração, escreveu o que se tornou a mais completa tradução da melancolia, da depressão e da profundidade das pessoas. "O Morro dos Ventos Uivantes" também é um grande ensaio sobre a psiquê humana, mostrando em seus protagonistas a inconstância que realmente temos em nossas vidas, as dores que nos acompanham por toda a vida e os erros que cometemos propositalmente.
Emily Brontë, assim como suas irmãs Anne e Charlotte, todas escritoras, tiveram vidas curtas e atribuladas. Porém foi Emily que mais mostrou-se completa em suas dores, perfeita em sua solidão e eterna em sua pequena obra. Termino com a clássica frase que o personagem Heathcliff diz ao ver-se afastado de sua amada Cathy:

"Não posso viver sem minha vida! Não posso viver sem minha alma!"

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Para morrer

Adentrando na noite, dirigindo o carro por aí

Procurando um lugar mais confortável para morrer

Alguma casinha escura, com um colchão e você em cima

Deitado do seu lado, tão mais adorável é sumir

Desaparecendo enquanto sussurra uma bela canção

Uma menina e um menino, as luzes da rua,

O uivo de um cachorro em algum lugar por ali

Nada mais, só o silêncio, só as coisinhas

Um perfume em sua pele e o cheiro do bolor

Desse colchonete tão agradável de deitar

Eu queria tanto iluminar essa sala escurecida

E dançar com você uma valsa qualquer,

Mas agora estou tão confortável com essa solidão

Uma solidão assistida, sob seus olhos estou

Deixei de ser qualquer coisa que vale a pena

Para ser um doente terminal aqui com você

Encontrei nesse lugar tão incomum algo perfeito

Uma lágrima que escorre na sua face, fugindo

Descendo seu rosto até a ponta do queixo

E pingando em meus olhos por fim, que felicidade

Vou findar com algo vindo de ti, lave meu rosto

Quero não precisar mais acordar nesse lugar

Vou dormir, vou sonhar que tudo se retomou,

Mas fora de mim ainda estará aquela rua comprida

E bem lá no fim a casa velha em que estamos

Eu com a cabeça em seu colo, de olhos fechados

Como é adorável morrer aqui ao seu lado

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sir Ben Kingsley


Abro um pequeno espaço aqui para falar de meu ator favorito, sir Ben Kingsley. Ganhador do Oscar de melhor ator por sua interpretação no filme Gandhi, também indicado na mesma categoria pelo filme Casa de Areia e Névoa, e indicado ao prêmio de ator coadjuvante pelos filmes Bugsy e Sexy Beast. Ben é um dos grandes gênios da atuação, e a cada filme implode minha cabeça, me chocando e mostrando-se sempre único. Sua interpretação pode ir do gentil ao furioso, pode ir do cruel ao pacífico. Kingsley, nascido Krishna Pandit Bhanji, é inglês, tendo ascendência indiana e russo-judaica. O pai, Rahimtulla, nasceu no Quênia e seus ancestrais vieram do Gujarate, o mesmo estado indiano de onde era originário o próprio Gandhi, cuja cinebiografia traria fama e prêmios para o ator. Mais recentemente apareceu em Fatal, ao lado de Penélope Cruz, adaptação do livro "Animal Agonizante" de Phillip Roth, que muito me emocionou, mostrando-se cheio de uma beleza delicada, porém séria e triste.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Desencaixado

Muito bem desencaixado

Solitário aqui no meio do nada

Calado e sem as palavras,

Sem olhar para ninguém

Carregado de pesos, de dores

E indelicado como nunca fui

Estou sem casca,

Vazio e liso, sem sorrisos

Ninguém fala comigo

Apenas sussurrando entre eles

É só o que eu ouço,

Mas nunca tenho força

Não me levanto da cadeira

Nem tenho vontade de dizer nada

Fico olhando pela janela

Sem ver direito, sem observar

Muito bem desencaixado

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

River


Apenas coloco aqui uma pequena nota para homenagear um grande ator que faleceu muito cedo e não teve chance de voar alto no cinema mundial. River Phoenix morreu aos 23 anos em 1993, por insuficiência cardíaca causada por uma overdose de drogas. Porém o legado que o ator deixou está longe de ser a de artista abusivo, está muito mais próximo da imagem de um dos jovens mais conscientes e talentosos de todos os tempos. Sucesso de crítica em filmes como Conta Comigo, Garotos de Programa e O Peso de Um Passado, pelo qual foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante. Foi também grande ativista pelos direitos dos animais, ambientalista e político, e músico, tendo até participado de um disco do brasileiro Milton Nascimento, depois que este compôs uma canção intitulada "River Phoenix", em sua homenagem.

"...vi um filme tantas vezes para desvendar os olhos teus!" (Milton Nascimento)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Era um, era dois, era cem...


Algumas canções são capazes de mudar tudo. Dentre as várias que mudaram o Brasil quero falar sobre esta: "Ponteio", de Edu Lobo. A canção, vencedora do festival de mpb de 1967, escalou facilmente minha pessoa até tornar-se uma de minhas preferidas. A força e a velocidade dessa canção são incomparáveis, seu contexto político é completamente revolucionário, talvez apenas igualado por Chico Buarque, em "Construção". Edu Lobo e Marília Medalha fizeram dela um sucesso absoluto que até hoje vive nos ouvidos de quem adora a boa música. Facilmente nós podemos reconhece-la, pois vem com toda força na sua frase inicial "Era um, era dois, era cem..."
O vídeo que coloco não é de boa qualidade, mas mostra a apresentação histórica daquela fatídica noite de '67.

Desfalecendo agora

Devagarzinho,

Eu me arrastei até aqui

Bem sutilmente,

Eu fiquei feito morto

Até que você me visse

E dissesse que eu estava vivo

Soubesse que estou inteiro,

Entendesse que ainda existo,

Mas que estou terminando,

Acabando,

Eu me sentei no sofá

Desfalecendo agora,

Eu caí num sono bom

Até que você me visse

E dissesse que eu estava vivo

Soubesse que estou respirando,

Entendesse que sou de carne,

Mas que o resto morreu

Nesse minuto

Moon River...


Uma pequena homenagem a bela e eterna Audrey Hepburn. Grande atriz, grande mulher, grande ser humano. Ela que me fascina a cada cena de "Bonequinha de Luxo" e me emociona a cada momento de "A Princesa e o Plebeu". Em janeiro de 2011 completarão-se 18 anos sem a mais doce das divas de hollywood, por isso adianto-me dizendo que o mundo sente muito sua falta. O cinema nunca mais teve uma atriz com seu carisma e elegância, e o planeta nunca mais teve uma embaixadora da paz de mesma potência. Deixo vocês com uma das mais lindas de suas interpretações, e digo que nenhum sentimento é igual, para mim, do que este que sinto quando vejo sua pequena voz sussurrando "Moon River". Me encho se luz e sensibilidade, espero que seja igual para todos.